Navegante

Sou uma navegante, capitã do meu próprio ser, navegando em mares calmos, bravios, em meio ao oceano doloroso e límpido que é viver. Durante o fim de tarde, próximo ao instante do pôr do sol, é quando me sinto viva, é quando o silêncio se torna dominante do meu ser, e os pensamentos voam junto as gaivotas que desenham o céu com suas sombras e harmonizam meu interior com o seu grasnar, e assim sinto o lado bom disso tudo que é viver. Sou uma navegante que costuma guardar dentro do peito toda afeição por conta da opressão em que se vive nos dias de hoje - o que ela exprime em palavras, é apenas uma gota do que mantém em seu oceano interior - é por isso que costumo navegar só, a natureza me faz sentir inteira. Até que chega a noite, a lua cheia nasce banhando o mar e ali, eu sou sua única platéia. O mar se acalma e ali me deito. Com uma mão cubro o luar para poder enxergar melhor todas aquelas estrelas, aquele cosmo todo me fascina! Era lindo, tão lindo que me senti só, eu estava inteiramente só. Não tinha com quem desbravar aquele instante. Era tão vasto! Procurei fechar os olhos e falar comigo mesma, notei que a consciência foi tomando conta de mim até eu sentir uma profunda calma como se uma flor estivesse desabrochando aqui dentro. Abri meus olhos e respirei bem fundo, tão fundo quanto aquele mar. Mar que me levava conforme as ondas dos meus pensamentos, alguns me afogavam, enquanto outros, renovavam. Era como se.. não sei ao certo dizer, é nesse instante em meio à toda aquela vastidão que me sinto tão pequena e me pergunto quem sou eu, chegando a conclusão de que sou o meu maior mistério. E ali fiquei, navegando à espera do sol nascer, navegante, capitã do meu próprio ser, tão dona de mim, expelindo palavras mar à fora, rindo sozinha, chorando outra hora, felicidade que me consome junto aquele doce vazio sem fim.



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